Beverly Hills,Wesker's Mansion

A última semana fora árdua. Dias difíceis, tenho que dizer. Por um momento, simplesmente pensei em abandonar tudo e voltar para os Estados Unidos. No fundo, aguardava uma deixa, mas mantinha o meu silêncio. Na minha terra natal, eu certamente teria melhores oportunidades para ampliar o meu conhecimento na minha área e trilhar uma carreira de maior sucesso, onde o meu trabalho fosse realmente valorizado. Kelly havia sofrido um acidente, por contato com fogo, devido a sua irresponsabilidade por não medir a consequência de seus atos. Era como se ela e Nicholas pensassem que nada, nem ninguém iria atingi-los. Não os culpava, o modo com que eles haviam sido criados, cercados por incontáveis baby-sisters, empregados, motoristas, só fazia acentuar esses aspectos irritantes de sua personalidade.

No St. Mungus, os dias seguintes, também correram agitados. Dividia o meu tempo entre o meu expediente, plantões e emergências, meus irmãos e Alexandra. Na verdade, o meu tempo para ela era bem menor e eu não sei se eu poderia dizer se ainda estávamos juntos; o clima simplesmente tinha esfriado. Dane-se. Isso pouco importa atualmente. Tratei, naquela longa semana, do rosto de Kelly que havia sido desfigurado pelo acidente. Nada de tão grave. E nada é impossível nesse mundo, não? Dentro de poucos dias, tudo estava resolvido. Ela continuava com a pele de pêssego dela e a soberba típica de garota mimada, às vezes muito peculiar no seu caso em específico.

Iríamos todos juntos passar o natal com a nossa família, como anualmente fazíamos. Iríamos. Por causa dos caprichos de Nicholas, aquele ano estava sendo diferente. Eu não insistiria para que ele viesse; se ele não queria, ótimo! Menos trabalho para mim. Não tenho a menor vocação para ser babá de um "aborrecente" com crises existenciais. Kelly optou por chamar uma amiga para lhe fazer companhia. Não me dei ao trabalho de fazer o mesmo com Alexandra, pois sabia que ela não viria. E não que eu me importasse tanto assim. Encontraria algo de interessante para fazer, na falta dela.

Durante o vôo, aproveitei para dar uma rápida cochilada. Estava exausto e, agora sim, poderia fazer uso do provérbio popular tão conhecido entre as classes mais baixas: "o meu tempo vale ouro". Também tinha fones no ouvido, para evitar de escutar qualquer possível gritaria que, porventura, Kelly viesse a dar, porque sim... ela era mesmo escandalosa. Uma autêntica Wesker.

Não demorou muito para que chegasse. Desci rapidamente do avião. Não tinha trago comigo muitas roupas ou objetos, apenas o necessário. Tinha praticamente tudo em minha casa; além de, é claro, muito, mas muito dinheiro. Não que eu dependesse dos meus pais, como os encostados da Kelly e Nicholas, mas quando eles me ofereciam presentes especiais, eu não recusava, até porque seria um ato grosseiro da minha parte. Avistei Kelly com Lucy e caminhei até elas. Senti que algo estranho estava acontecendo.

- Aproveitaram a viagem? - provavelmente não. Quantas vezes Kelly já havia viajado na vida? Nem consigo contar! Lucy também parecia ser o tipo de garota que tinha passado por aquela aventura "algumas" vezes. - Perdi alguma coisa? - ri rapidamente, estranhando o modo com o qual Kelly me olhava. - Será que eu vou ter que descobrir sozinho? - meu sorriso se desfez rapidamente e minha voz ganhou um tom sério.

Citação :

Phafão: KELLY WESKER NÃO TEM SANGUE AZUL DO PRODUTOR DE CINEMA WESKER. ELA É ADOTADA. ISSO MESMO HUMANIDADE! !!A MENINA DE OURO DO CINEMA É ADOTADA!!!

Não podia negar que estava muito perplexo com toda aquela confusão que acontecia pelo lado de fora da sala vip, aonde eu tinha encontrado com Kelly e sua amiga, Lucy. Antes de mais nada, perguntei se a viagem tinha sido proveitosa a elas. Ficaram em silêncio, até porque, provavelmente, não deveriam ter escutado qualquer palavra que eu tinha dito, visto o barulho infernal, que conseguia facilmente passar pelas paredes de concreto e chegar a nós com uma intensidade semelhante a real. Prossegui com um mais questionamento. Talvez elas pudessem me explicar o quê, de fato, estava acontecendo. Olhei de Lucy para Kelly e de Kelly para Lucy. A amiga de Kelly parecia tão embaraçada quanto. Respondeu a mim dizendo que também esperava por uma explicação plausível. Olhei para Kelly. Aí tinha!

Como era suposto que fizesse, ela foi logo tratando de se inocentar, anular qualquer possível culpa que ela pudesse ter. Arqueei uma de minhas sobrancelhas, pois duvidava piamente disso. Não era como se ela tivesse apresentado nenhum argumento para me convencer de que ela não tinha a ver com aquilo. Afinal, não era todos os dias que você tinha uma centena de repórteres te perseguindo com perguntas, no mínimo, para não falar mais, estranhas. Conhecia bem Kelly... tinha motivos para acreditar que tinha algum dedo dela naquela história toda. Suspirei. Foi então que ela nos mostrou o verdadeiro motivo de toda aquela baderna. WESKER LIVE SHOW? Mas que porra... era... aquela?! Balancei a cabeça, incrédulo. Não, não podia ser verdade.

- O que ISSO significa? - uma pergunta idiota que foi respondida com outra de Kelly. Não, ela não precisava explicar nada. Eu não acreditava que meus pais tinham sido capazes de "vender" a intimidade deles. Queria acreditar que aquilo tinha algum objetivo, ainda que subliminar. Pobre Lucy, que tinha se envolvido naquilo tudo. Pior início de natal que alguém poderia ter. Kelly se levantou, como se estivesse disposta a tomar uma atitude. Na verdade, compartilhou uma ideia, um plano conosco. Meio absurdo, mas que talvez pudesse ser eficaz. Antes que pudéssemos concordar ou discordar, ela saiu, em disparado, para fora da sala, distraindo os repórteres. Segurei firmemente na mão de Lucy, levando-a até o automóvel indicado por Kelly.

Entramos na limousine e me sentei, ao canto. Suspirei novamente. Difícil de acreditar que tudo isso estava acontecendo mesmo. Esperava, sinceramente, que fosse só um pesadelo. Fechei os olhos por um pequeno período e abri-os, em seguida. O suficiente para me dar conta de que tudo aquilo era a realidade; minha dura realidade. Kelly entrou na limousine e mal chegara, e se espantara com mais uma "bomba". Um "rumor" de que ela não era uma Wesker. Me mantive, durante muito tempo, em silêncio. Não podia imaginar como eles tinham descoberto a verdade; uma verdade que nem eu saberia explicar naquele momento. Deveria haver um engano.

- Calma! Espernear não vai resolver os nossos problemas. - falei com seriedade para Kelly. Até que eu descobrisse a verdade por trás dos mistérios dos meus pais, eu precisava saber EXATAMENTE de maiores detalhes sobre a vida de Kelly. Não soltar uma bomba destrutiva, que possivelmente tiraria o seu chão, sem ter a total certeza das minhas suspeitas. - Você realmente acredita nesses boatos idiotas? Quantas vezes disseram que o casamento dos nossos pais havia chegado ao fim? Quantas coisas já inventaram ao meu respeito? - tentei tranquilizá-la, mas não sei se aquilo seria o bastante para fazê-la se calar. - Você já pensou para onde vamos ir agora? Sem nenhuma chances de eu entrar em uma casa que é cenário para um reality show! - disse com certo aborrecimento.